Apague a luz, o ultimo a partir, o ultimo a embarcar no navio das almas, ao mar dos eternos navegantes, aos afluentes da despedida. Apague, o ultimo dos marujos, o errante, que dantes respirava, que dantes aspirava vida, que jaz o inferno de Dante. Apague, a pequena chama que esperançava seus sonhos, todos seus sonhos, sua crença infalível de que a vida é mais, de que a vida sempre vence, que o amor sempre vence, a vitória do bem é sempre certa. Incerta.
O amor é a seta, por mais difícil que seja acertar o alvo, a morte do amor é fato consumado, devido ao consumo de sentimentos baratos, atos por sobre atos, fatos atrás de fatos, que marcaram a morte desse tal amor. O que é amor?
Apague a vontade de viver, a vontade de fazer um filho, no país onde os pais enterram seus filhos, onde os velhos jogam as flores sobre o caixão da primavera. Onde os pais arremessam suas estrelas pelas janelas da loucura, estrelas cadentes na selva de pedra, corações de pedra. A selva. As pedras.
Apague o clarão da noite, das armas que arranhão o céu, o calor do urânio partido, armas químicas, biológicas, sem lógica. A fome da áfrica, dos moradores de rua, os ossos a vista, em contradição com o cartão de crédito do seu patrão que paga a vista. Os mortos por um papel, por um trago, por um copo, um afago, por um café amargo.
Apague os noticiários, as paginas dos jornais, a cena do amante que matou, do amor que desaprendeu a amar, do namorado que nunca soube namorar, da namorada que agora jaz em outro lar. Apague todo aquele papo melancólico dos pagodes, dos sertanejos, dos românticos, dos poetas, das novelas, dos filmes. Amor?
Ninguém aqui sabe amar! Contrastes. Jesus morreu por nós, por amor, nós matamos a nós mesmos, em nome do amor. Será que o amor mudou? Ou nós não sabemos a essência de amar?
Bom, sabendo ou não, despreze essas palavras, não de crédito, são apenas devaneios de quem deveria estar dormindo a essa hora. De quem está morrendo de sono, de quem já não sabe mais o que diz, faz assim. Vou dormir. Amanhã talvez estejamos aqui. Caso não ocorra assim, faz um favor para mim. O ultimo que morrer, apague a luz!
on 29 de agosto de 2010 às 11:43
" (...)os ossos a vista, em contradição com o cartão de crédito do seu patrão que paga a vista".
Perfeita -chocante e forte- a imagem, o jogo de palavras. Própria de um poeta.
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